Relacionamento com a imprensa: consistência e evidências verificáveis

Quando ocorre um incidente de segurança, seja ele um real ou suposto vazamento de dados, a atenção da imprensa e do mercado pode ser tão intensa quanto a própria investigação técnica. Para executivos de empresas, o desafio costuma estar em responder de maneira rápida, consistente e juridicamente responsável, sem comprometer a coleta de evidências ou expor a organização a riscos adicionais.

Na prática, contradições entre declarações de porta-vozes, relatórios técnicos e comunicados internos podem comprometer a credibilidade da organização. Por isso, observa-se em muitas empresas um esforço imediato de alinhamento entre áreas de tecnologia, jurídico, compliance e comunicação, de modo que a instituição ofereça informações coerentes.

É comum que a alta administração designe previamente um porta-voz oficial, preparado para dialogar com a imprensa. Essa definição contribui para reduzir exposições divergentes entre executivos e sustentar clareza e consistência nas informações transmitidas.

No mercado, a prática predominante é detalhar apenas aquilo que pode ser comprovado tecnicamente. Fatos sustentados por evidências, como a indicação de acesso não autorizado a uma base de dados e a informação de que medidas de contenção já foram aplicadas, transmitem segurança.

Em contrapartida, declarações categóricas de que “nenhum dado foi comprometido”, quando a análise forense ainda não está concluída, tendem a ser vistas como arriscadas, pois podem prejudicar a credibilidade institucional.

O recurso a evidências verificáveis, transmitidas em tom objetivo e sem especulações, costuma ser elemento central na comunicação de organizações que buscam preservar reputação e atender expectativas regulatórias e do público.

Equipes de computação forense aparecem, em diferentes setores, como parte essencial desse processo. Não se limitam a produzir relatórios técnicos: seu trabalho constitui a base para qualquer posicionamento público. Evidências preservadas metodologicamente, como logs, registros de rede e imagens forenses, permitem que a comunicação seja construída sobre dados documentados.

Na maioria das organizações, a atuação conjunta com o jurídico é vista como indispensável. Cabe a essa área avaliar riscos regulatórios ou de litígio, organizar o enfrentamento da crise e apoiar a gestão da divulgação. Dessa forma, o que se transmite ao mercado deixa de ser mera suposição ou apenas árida informação técnica, passa a configurar um relato institucional amparado em evidências verificáveis e juridicamente embasados.

As experiências de mercado mostram que a comunicação externa em incidentes de dados envolve a alta gestão e costuma refletir papéis claros de diferentes áreas:

  • Diretoria Executiva / Conselho: garantir que a mensagem institucional esteja alinhada aos valores e princípios da organização.
  • Jurídico e Compliance: apoiar análises, zelar pelo cumprimento das obrigações regulatórias relacionadas ao incidente, analisar riscos e validar juridicamente os comunicados.
  • Tecnologia e Segurança da Informação: fornecer insumos técnicos sólidos e devidamente confirmados.
  • Comunicação Corporativa: gerir o relacionamento com a imprensa, consolidando informações das demais áreas e assegurando consistência.
  • Relações com Investidores: conduzir a comunicação de acordo com as exigências do mercado de capitais, preservando transparência e previsibilidade.

Empresas que lidam com incidentes de forma estruturada frequentemente preservam a reputação mesmo em crises severas. Algumas práticas de comunicação recorrentes nesses contextos incluem:

  • Coerência temporal: não antecipar possíveis resultados de perícias em andamento.
  • Objetividade: apresentar fatos respaldados por documentação técnica.
  • Uniformidade institucional: evitar múltiplas versões vindas de diferentes executivos.
  • Transparência responsável: equilibrar o dever de informar com a cautela acerca da posição jurídica da empresa.
  • Registro sistemático: manter histórico formal de todos os comunicados externos.

O relacionamento com a imprensa diante de incidentes de vazamento de dados tende a ser mais bem-sucedido quando se apoia em consistência, evidências verificáveis e alinhamento entre as áreas executivas. Experiências de mercado indicam que comunicações baseadas em fatos comprovados, estruturadas com suporte de equipes de computação forense e validadas juridicamente, não apenas preservam a reputação da organização, como também fortalecem sua posição regulatória e jurídica no pós-incidente.

É importante ressaltar que a comunicação com a imprensa e com o mercado não substitui as obrigações legais formais. A LGPD determina que incidentes relevantes sejam notificados à ANPD e, quando necessário, aos titulares afetados, de forma tempestiva e transparente. A clareza na comunicação pública deve, portanto, caminhar em paralelo com o cumprimento rigoroso dessas exigências regulatórias.

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